Ação leva atividades integradas de saúde humana, animal e ambiental a mais de 3 mil indígenas em aldeias do interior do estado entre 26 e 30 de maio
As comunidades indígenas do território Rio das Cobras, no Paraná, vivem em áreas remotas e historicamente marcadas pela exclusão social. Com acesso limitado aos serviços básicos de saúde, enfrentam condições de vulnerabilidade que afetam não apenas as pessoas, mas também os seus animais de companhia - sobretudo cães e gatos - e animais de produção, que fazem parte do cotidiano e da cultura local. Nesse contexto, a atuação integrada de profissionais de saúde humana e veterinária torna-se essencial para a promoção do bem-estar coletivo. É exatamente esse o objetivo da ação capitaneada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com participação do Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD), que entre os dias 26 e 30 de maio, realizará uma força-tarefa inédita no aldeamento, o maior do sul e sudeste do país, com foco no conceito de Saúde Única. A iniciativa já mapeou 989 animais para potencial atendimento, com implementação de protocolo sanitário, incluindo realização de exames e aplicação medicamentosa.
A ação atende a uma população estimada de 3.774 indígenas, distribuída em dez aldeias localizadas entre os municípios de Nova Laranjeiras e Espigão Alto do Iguaçu. Os atendimentos diários contemplarão aldeias como Sede, Taquara, Encruzilhada, Vila Nova, Pinhal, entre outras. O cronograma prevê reuniões estratégicas a cada manhã para alinhamento das equipes, que serão formadas por médicos veterinários, técnicos em saúde e agentes locais. De acordo com o professor Alexander Welker Biondo, do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR, liderança da ação, a iniciativa é fundamental “a inserção de animais de companhia, como cães e gatos, nas aldeias indígenas pode exacerbar a contaminação de habitantes locais por zoonoses, portanto, é importante que os cuidados médicos sejam realizados dentro de um conceito de saúde única, visando o bem estar de ambas as populações”.
O que é Saúde Única?
O conceito de Saúde Única reconhece que a saúde humana, animal e ambiental estão profundamente interligadas. Em territórios indígenas, esse vínculo é ainda mais evidente, já que a convivência com os animais é parte intrínseca do modo de vida local. Profissionais da medicina veterinária atuam não só no controle de zoonoses — como raiva, leptospirose e toxoplasmose —, mas também promovem educação em saúde, vigilância sanitária, manejo sustentável e apoio técnico às políticas públicas de saúde.
Pesquisas da UFPR mostram que arboviroses como dengue, zika e chikungunya, além de doenças como toxocaríase, toxoplasmose, febre Q e leishmaniose, são prevalentes em comunidades indígenas do Paraná, tornando ainda mais urgente a abordagem integrada de cuidados.
Atendimento gratuito e especializado
A missão contará com uma equipe de cinco profissionais do GRAD, composta por dois médicos veterinários, uma graduanda e dois assistentes, além de especialistas da UFPR e da UNICENTRO. O levantamento parcial já identificou 762 cães, 222 gatos, 3 cavalos e 2 coelhos, todos aptos a receber atendimento gratuito durante a operação.
Para os animais, os serviços oferecidos incluem a coleta de sangue para diagnóstico de doenças (como leishmaniose, toxoplasmose, raiva, febre maculosa); Vacinação antirrábica e múltipla; Desverminação e aplicação de antipulgas e carrapaticida; Protocolo sanitário com base em diagnóstico epidemiológico local.
Para os indígenas, será realizada coleta de sangue por especialistas do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) para exames como, anemia e proteínas plasmáticas; Sorologias de toxoplasmose, leptospirose, leishmaniose, febre maculosa, entre outras.
Fortalecimento das políticas de saúde indígena
A iniciativa também está integrada a um conjunto de ações do Polo Base de Guarapuava, responsável pela administração de saúde da Terra Indígena Rio das Cobras, vinculada ao DSEI Litoral Sul (LSUL). A Missão Paraná tem por objetivos, ampliar a cobertura vacinal, promover ações voltadas à saúde da criança e da mulher, qualificar equipes de saúde indígena com capacitações interculturais, aprimorar o monitoramento epidemiológico e integrar a medicina tradicional indígena com práticas da biomedicina.
Cronograma das atividades (26 a 30 de maio)
Segunda (26/05) – Aldeias Sede, Pinhal e Lebre
Terça (27/05) – Aldeias Campo do Dia, Taquara e Água Santa
Quarta (28/05) – Aldeias Trevo e Vila Nova
Quinta (29/05) – Aldeias Sede e Encruzilhada
Sexta (30/05) – Aldeia Sede (encerramento e reforços)
Compromisso com a vida e com a saúde indígena
A parceria entre o GRAD e a UFPR, nascida em missão realizada em fevereiro deste ano junto a comunidades indígenas do Rio de Janeiro, na região que abrange os municípios de Angra dos Reis e Paraty, fortalece uma abordagem ética e comprometida com a promoção da saúde em sua totalidade. A presença do médico-veterinário no território indígena vai muito além do atendimento clínico — é uma ponte entre o conhecimento tradicional e a ciência, entre o cuidado com os animais e a proteção da vida humana.
Por meio do conceito de Saúde Única, a missão no Rio das Cobras demonstra que cuidar da saúde das pessoas é também cuidar da saúde dos animais e do ambiente em que todos vivem. Em um cenário de vulnerabilidade social e sanitária, iniciativas como essa representam um passo decisivo na construção de políticas públicas mais inclusivas, eficazes e respeitosas às diversidades culturais do Brasil.

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