A vida nunca foi fácil para o casal Finckler. Seu Marino, de 64 anos, e Dona Noemia, de 52, trabalharam por quase três décadas em granjas de porcos até que, cansados de lidar com a suinocultura, somado a uma lesão na coluna da esposa, buscaram um outro meio de ganhar a vida no campo, sem precisar se mudar para a cidade.
Foi então que eles decidiram, há sete anos, comprar uma “chacrinha”, como Marino denomina o local onde o casal decidiu fazer morada, na área rural de Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná. Determinado a produzir bovinos, foi aconselhado pelos vizinhos a investir em uma outra cultura. “O povo falava ‘não comece com vaca que isso não dá certo’ e nos incentivaram a começarmos com piscicultura”, lembra o produtor.
Para ajudá-los na consolidação da atividade, o casal contou com um apoio fundamental: o Paraná Energia Rural Renovável (RenovaPR), do Governo do Estado, para instalação de placas solares com juros zero no financiamento, barateando custos da instalação de placas solares e possibilitando o investimento em automatização dentro da propriedade. O programa é desenvolvido pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), por meio do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR).
A história do casal Finckler é o tema desta semana da série de reportagens “Paraná, a Energia Verde que Renova o Campo”, produzida pela Agência Estadual de Notícias (AEN) e publicada sempre às terças-feiras.
A permanência na área rural, com uma produção rentável, Marino credita ao RenovaPR. “Se não tivesse as placas, acho que não ia ser viável ter peixe. O custo da luz é muito alto, não daria certo. Assim, a gente quase não paga, ficou bem melhor”, opina. “Sem o programa não tinha condições de continuar aqui e nem de comprar essas placas no dinheiro. Ter conseguido financiamento com juros zero foi muito bom.”
APOIO – Conhecendo quase nada de piscicultura, o casal decidiu arriscar com a tilápia, espécie da qual o Paraná é líder nacional na produção e com mercado tanto no Brasil quanto no Exterior, sobretudo nos Estados Unidos, país que mais importou tilápia do Estado no primeiro semestre de 2024. Para isso, Marino e Noemia contavam com o apoio de técnicos do IDR-Paraná e também de fornecedores, que davam dicas sobre como manejar a cultura.
Foi justamente esse apoio técnico que deu o start para que o casal visse, na produção própria de energia, uma maneira de se manter no campo. “Quem me falou sobre o programa foi a técnica do IDR-Paraná que me acompanha aqui. Ela vem todo mês e comentou sobre o RenovaPR. Na hora eu disse para ela ‘meter ficha’ e deu certo”, recorda o piscicultor.
REDUÇÃO DE CUSTO – A propriedade de Marino e Noemia conta com dois tanques, com capacidade para produzir até 65 mil tilápias simultaneamente, por ciclo. Por mês, o casal chegava a gastar R$ 2 mil em energia elétrica, mas com um número bem menor de peixes. A termos de comparação, com a produção atual, eles estimam que a conta ficaria entre R$ 7 mil e R$ 8 mil.
Buscando reduzir custos, Marino buscou financiamento de 96 placas solares com juros zero pelo RenovaPR, por meio do Banco do Agricultor Paranaense, operacionalizado pela Fomento Paraná, ao valor total de R$ 165 mil. Enquanto que no ano eles pagariam cerca de R$ 84 mil com a conta de luz, a parcela do financiamento das placas solares, que é anual, fica em R$ 16,5 mil, redução de 80%.
Com prazo de pagamento de 10 anos, o casal foi pioneiro na obtenção de financiamento pelo programa em Marechal Cândido Rondon, ainda em 2021. “O primeiro contrato que entrou no banco aqui da região foi o nosso”, recorda Noemia. A economia proporcionou que a produção fosse aumentada. “Naquela época, quando não tínhamos as placas, eram poucos peixes. Agora eu tenho bem mais. No calorão chego a gastar 10 mil quilowatts no mês”, explica Marino, que se livrou da conta de luz. “Hoje eles só descontam a taxa da rede, de R$ 19 em média.”
OUTROS EQUIPAMENTOS – Além de aumentar a produção, permitida pela redução na conta de luz e financiamento sem juros, o casal pôde investir em outros equipamentos para otimizar ainda mais a propriedade. Eles também financiaram pelo Banco do Agricultor um gerador de energia (evitando que os picos de luz prejudiquem a produtividade) e sondas (que medem o oxigênio na água). Instalaram, ainda, um sistema com aeradores, que movimentam a água para aumentar o oxigênio nos tanques.
A exceção do gerador, que liga automaticamente em caso de pico de luz, os demais sistemas podem ser operados tanto de forma automática quanto pelo celular. À medida que a temperatura da água cai, ou então os níveis de oxigênio fiquem mais baixos, os aeradores automaticamente entram em operação. Quando atingido o valor ideal, o sistema desliga.
“Se fosse pagar energia não poderia por muito aerador, porque o gasto é muito alto. Assim a gente pôde colocar mais e aumentar a produção de peixe. Enquanto estamos pagando as placas, tem que ir se acertando com o gasto, mas depois de finalizar, será tudo de bom”, afirma o piscicultor.
CUIDADO NO INVERNO – Deu tão certo a produção de energia que o casal decidiu investir, por conta própria, em mais 48 placas, totalizando agora 144. Com o excedente do que é produzido nos meses que demandam menos energia (geralmente no inverno), o casal abate em meses em que a produção está plena, quando os peixes atingem um tamanho superior a 400 gramas.
Apesar de ser uma região com temperaturas mais elevadas, quando ocorrem dias frios os produtores já redobram os cuidados. Isso porque a produção de alevinos (estágio embrionário dos peixes) ocorre nos períodos de calor, entre novembro e abril. Deixar os peixes morrerem fora desse período, sem ter como repor, é perder dinheiro.
Outro fator de cuidado é com a alimentação. Em dias frios, os peixes se movimentam menos, o que demanda porções menores de ração, facilitando a digestão e evitando perdas. “No inverno é complicado. A água fica muito fria e se bobear um pouquinho, tratar um pouco demais, mata os peixes”, comenta Marino. “Tem que cuidar mais. Por isso que para mim não é bom o frio. Eu prefiro o calor, porque os peixes vêm mais rápido.”
PISCICULTURA – O Paraná é o maior produtor de peixes do Brasil. A região que mais produz a proteína é o Oeste, sobretudo o Núcleo Regional de Toledo, da Seab, que principal produtora. Em 2023, essa regional Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 1,08 bilhão, representando 52,7% do total estadual. Marechal Cândido Rondon, que pertence a esse Núcleo Regional, figura entre as principais produtoras. Dos 399 municípios do Estado, 364 apresentaram atividade de piscicultura no ano passado. Os 10 maiores municípios totalizam 58% do VBP paranaense.
Para se ter uma ideia da força da região Oeste, das dez cidades que mais produzem peixe no Paraná, nove são de lá. Nova Aurora lidera o VBP, com R$ 213,4 milhões, seguida por Palotina (R$ 189,1 milhões), Assis Chateaubriand (R$ 140,4 milhões), Toledo (R$ 131,9 milhões), Terra Roxa (R$ 101 milhões), Maripá e Nova Santa Rosa (R$ 99,9 milhões cada), Marechal Cândido Rondon (R$ 73 milhões), e Tupãssi (R$ 69,9 milhões). Guaratuba, no Litoral (R$ 81,3 milhões), completa a lista.
Os 10 municípios respondem por 58% da produção estadual. Os outros 354 produtores de peixe no Estado somaram R$ 864,6 milhões e 42% do mercado paranaense. “Para nós a tilápia é mais viável. Esse peixe é muito bom, é o melhor que tem. Uma partezinha da produção do Paraná vem daqui de Marechal”, finaliza o piscicultor.
SÉRIE – A série de reportagens “Paraná, a Energia Verde que Renova o Campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias renováveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas neste link.
AEN